segunda-feira, 4 de outubro de 2010

UMA “REPÚBLICA” EMPILHADA DE FAVELAS E MISERÁVEIS



            Nessas eleições, para que, obrigatoriamente, o povo votasse escolhendo seus supostos representantes para os cargos de Deputados (estaduais e federais), Senadores e Presidente e vice-presidentes da República Federativa dos Estados Unidos do Brasil e, com fundamento no Pleito Eleitoral e no Escrutínio Secreto para que as instituições, posteriormente, passassem a gozar, perante o próprio povo, o privilégio de órgãos nacionalmente referendados por ele, a maioria, e com suas leis, quando criadas, legalmente respaldadas no princípio constitucional alegando que “todo poder provêm do povo, mas que é exercido por seus representantes legais”, lembrei-me, enquanto saía de minha residência para minha Zona Eleitoral, do grande escritor russo Leon Tolstoi, autor de diversos romances e considerado até hoje, depois da sua morte, ocorrida no século XIX, em 20/11/1910, como um dos maiores escritores e pensadores de todos os tempos, comparado e equiparado, em razão pela qualidade moral e crítica como escrevia, aos grandes escritores e filósofos gregos antigos.
            Pensei no Conde Liev Tolstoi, não em razão de ter lido toda a sua obra até então traduzida para o nosso português, além de outras diversas obras que lhe retratam, mas simplesmente por ter lido, certa vez, num de seus livros, titulado QUE É A ARTE?, na parte introdutória, um depoimento dele, com relação a situação das condições de vida em que o povo russo vivia em São Petersburgo, e, por extensão conclusiva, com relação às demais cidades da Rússia daquela época. Assim como, naquela época, o escritor russo se sentiu, na alma, constrangido e indignado com as condições de miséria e de vida miserável como o povo russo se encontrava, também experimentei, aqui no Brasil, como poeta, o mesmo amargor na alma quando saí de casa para votar, contra a minha livre, espontânea, herética e intelectual vontade, mas simplesmente em decorrência de um dispositivo constitucional opressivo e opressor e que reduz o exercício do voto à obrigatoriedade, aos maiores de dezoito anos, sob as penas da lei.  E é sobre isso - assim como fez Leon Tolstoi, ao sair de sua casa, no pequeno povoado de Yasnaya Polyana, não para votar, mas para resolver alguns problemas pessoais e visitar alguns parentes próximos -, que vou falar o que meus olhos, com meticulosidade de visão cirúrgica, mediúnica e tubércula perceberam.
            Assim que pus meus pés na rua, semelhantemente quando, naquela época, Leon Tolstoi saltou do tilburi e ergueu os olhos em torno do lugar onde se encontrava, vi a miséria social do povo brasileiro em seus vários estragos ou encadeamentos, desde o individuo subnutrido, passado pelo desnutrido até chegar ao propriamente faminto, e isso em plena rua, pelas praças, becos e avenidas, um quadro dantesco, paleolítico, medieval ou apocalíptico. Toda essa miséria, concluí com meus botões, fruto e conseqüência da existência de uma política mesquinha, de um ordenamento jurídico mesquinho, de um punhado de instituições mesquinhas, de uma constituição mesquinha, porque acorrentada de seus desdobramentos jurídicos necessários para organizar a sociedade brasileira em tópicos mais elevados de humanidade, ética e moralidade, e, talvez, tal acorrentamento seja em razão da influência direta do capital que se encontra acumulado em mãos de alguns e que, muitos deles, preferem contribuir na formação de uma Nação doente, crônicamente doente, com seu povo apodrecendo, sendo empurrado às mazelas por uma ordem econômica perversa e de índole nazística, porque empurra grande contingente de criaturas humanas às câmaras de gás do analfabetismo, da prostituição, da criminalidade e de uma série de formas aberrantes e inumanas de vida, para melhor organizar as, digamos, “quadrilhas formais”, ou seja, grupos que se formam para criarem meios ou artifícios com a finalidade de fraudar o erário público por meios  dos chamados “crimes políticos” ou “crimes do colarinho branco”, crimes estes, por sinal, tão maléficos à sociedade e ao povo em geral, especialmente a esses miseráveis que os vi pelas ruas, quanto aqueles que a lei considera como “crimes comuns”.  Aliás, quanto a esta realidade, podemos concluir que, historicamente falando, aquilo que chamamos de Democracia hoje fora, no passado, criado com a finalidade praticamente exclusiva de transformar o próprio Estado, que é uma espécie de empreendimento mais arrecadador de dinheiro, por força compulsória dos tributos, num lugar onde se administra para “meter a mão” em suas quantias astronomicamente arrecadadas, e foi pensando nisso que o modelo de Estado democrático criado determina, em suas Cartas Constitucionais, a existência de um sistema financeiro privado e frouxamente tutelado pelo próprio Estado, através da sua chamada “Ordem Econômica”. É aqui, justamente onde se pode perceber a razão pelas quais as Democracias foram feitas, ou seja, para manter um contingente humano na desgraça (ou des-graça) e uma minoria, representada justamente por aqueles que detêm o poder econômico (Deus ou o Diabo sabe lá como construíram tais patrimônios!) e, com isso, controla e manipula os meios de comunicação de massa, os partidos políticos, o conteúdo e a qualidade da educação, das artes, etc., como estes pobres miseráveis que meus olhos viram durante mais um carnaval chamado de “eleições”.
            Quando, enfim, cheguei a minha secção eleitoral, também vi parte daqueles miseráveis em fila indianamente humilhante para votar – humilhante porque percebi que muitos deles ali estavam contra a sua própria e livre vontade, assim como eu. Vi, na fila, pois – e não apenas na secção em que estava votando, mas em várias secções que fui observar, com meus olhos de raios-X, mediúnicos, caleidoscópios, tubérculos e cirúrgicos, um povo maltratado e desrespeitado pelas instituições, pela economia e pelas leis do meu país, porque simplesmente dava para se ver que eles estavam mal vestidos e  mal alimentados, e se assim estavam esses é porque não são dignamente assistido pelo seu Estado, ou seja, seu sistema econômico e financeiro, seu sistema educacional e previdencial, cultural e habitacional, resumindo: previamente condenados por um Sistema Jurídico formado e formatado conforme os interesses e as exigências daquilo que frouxamente a Constituição assegura: economia privada, formada por grupos que dominam, politicamente, o próprio Estado, manipulam-no e rapinam-no.
            O escritor russo viu, na sua Rússia Czarista, talvez o mesmo que vi aqui, no Brasil República (ou Brasil democrático, ou Brasil Constitucional). Se Tolstoi ficou por dentro indignado e revoltado com aquela meia dúzia de homens que controlavam o Estado Czarista e empurrava o povo russo para a merda, também fiquei indignado aqui com o Brasil República Democrática Constitucional, porque vi parte do nosso povo na merda e outra parte sendo lentamente empurrada para o mesmo lugar. Quanto a isto, dando aos meus olhos uma extensão ultra-Brasil, podemos dizer que todas as demais supostas Democracias do mundo moderno existem dentro desse mesmo quadro socialmente Holocáustico, porque também todas as outras supostas Democracias se nivelam e também os demais Estados democráticos constitucionais são dominados e controlados pelos grandes conglomerados econômicos, gozando dos mesmos afrouxamentos legais com relação ao fenômeno da garantia da “economia privada”, e até em parceria com o próprio Estado que, por meio de seus representantes, vem sendo, assim como no seu passado histórico, uma ante-sala dos grupos que o erigiram e o organizaram. As Democracias modernas, estão obsoletas e ultrapassadas, porque nenhuma delas ainda se atinaram para a relevância da necessidade da extensão do termo para às questões de ordem social, no sentido de se admitir uma economia redistributiva e uma responsabilidade por parte do Estado com relação ao seu papel fundamental, que é o de atender e cumprir, dignamente, suas responsabilidades inatas: educação, saúde, habitação, lazer, segurança e saneamento, serviços públicos estes que a República Federativa do Brasil, democrática e constitucional, não oferece nenhum deles ao povo com respeito e dignidade: a Nação, paradoxalmente, está miseravelmente desatendida e desrespeitada: o povo na imensa pobreza, pelas  favelas em todas as Unidades Federativas, criminalidade, na  prostituição e no caminho das drogas, fazendo com que o coração de milhares de mães vivam chorando  em razão dos  descaminhos e desgraças vividos pelos seus filhos, quando tal sofrimento poderia ser combatido com políticas sociais verdadeiras.

Guina
               

Um comentário:

  1. ... cada vez, será mais difícil haver políticas sociais verdadeiras, se estamos já (pelo menos em Portugal) numa sociedade sem ética e sem valores morais onde os que decidem, perdem tempo com mentiras e jogos de poder, onde elites podres, já nem vergonha têm na cara quando roubam o que nem sequer lhes pertence e utilizam os bens públicos para desbaratar ou enriquecer a eles próprios e aos amigos.

    Bjos

    ResponderExcluir