segunda-feira, 4 de outubro de 2010

LETRAS SIM; FUTEBOL, NÃO




     A ciência responsável pelo estudo da linguagem, enquanto conjunto de signos linguísticos, recebeu o nome de Semiologia. A Semiologia é, portanto, a Ciência dos signos linguísticos utilizados pelos homens no seu universo de comunicação em geral
     Dito isto e, levando-se obviamente em consideração que todo ramo da ciência, sejam elas sociais ou naturais, tem uma linguagem própria e que vulgarmente chamamos de linguagem técnica, representada por conceitos próprios e específicos não existente com vida própria e autônoma em todo ou qualquer saber científico. Para se ter uma idéia quando falamos em Direito, Medicina, Engenharia, Fisica, Biologia, etc. estamos falando de ramos distintos do saber  humano com uma linguagem própria, como se fosse uma constelação ou constituição de conceitos específicos. 
     Entretanto, podemos dizer que atualmente a Ciência da Semiologia sofreu um desdobramento com o surgimento do termo Semiótica, ou seja, uma parte da Semiologia que estuda exclusivamente os conceitos, termos ou signos técnicos que formam cada espécie do saber científico. Portanto, se a Semiologia estuda a linguagem como um todo, isto é, todo ou qualquer signo linguístico, já a Semiótica procura estudar apenas os termos ou conceitos técnicos, de  conteúdos universais e mais fixos à modificações, formadores, axiologicamente falando, de juízos. Para se ter uma ideia, quando pronunciamos certas palavras como: liberdade, democracia, amor, justiça, bem, guerra, etc. estamos querendo dizer que elas não são expressões corriqueiras na vida do homem e sim signos ou conceitos mais incomuns e que formam, no seu conjunto, o arcabouço dessa ou daquela ciência. Outro exemplo melhor: a linguagem técnica da Medicina não é a mesma da do Direito e o deste não pode ser o mesmo utilizado pela Matemática. 
     Tanto as palavras comuns, utilizadas diariamente pelos homens no seu cotidiado - lembrando-se que estas são estudadas pela Semiologia, como os chamados conceitos técnico-científicos - aqui como signos especiais estudados pela Semiótica, sofrem modificações ou variações de significados por força do decurso do tempo: uma mesma palavra hoje, seja ela um signo linguístico comum ou especial, pode ter no amanhã uma outra dimensão de significado no mundo da comunicação humana, além de exercer importante  força na mentalidade das pessoas, criando novas formas de pensar sobre a realidade social de uma época. Isso significa o mesmo que dizer que são os conceitos técnico-científicos carregados de subjetividade e universalidades, com seus contornos sociológicos, antropológicos e filosóficos que mais exercem influência sobre os povos e a História. 
     Semiologicamente falando, se os signos ou palavras comuns sofrem um desgaste mais rápido pela ação do tempo histórico, o mesmo, por sua vez, não se pode falar daqueles conceitos responsáveis pela Semiótica, por se tratar justamente de expressões incomuns, de conteúdo historicamente mais duradouro e sempre mais difíceis de serem abruptamente modificados pela própria História, pois que tais signos são como os sustentáculos do saber científico e os pilares da História, no sentido de fazer com que não aconteça tantas oscilações de mentalidade social. A modificação de um signo comum não altera a vida social nem causa rebuliços na mentalidade de uma época, enquanto que  havendo mudança ou interpretação mais extensiva no significado dos signos técnico-científicos, aí sim, interfere na vida social e causa perturbações históricas. 
      Fazendo-se essa distinção entre Semiologia e Semiótica, signos ou palavras comuns e signos ou conceitos técnico-científicos, vamos chegar facilmente à conclusão que os signos técnico-científicos, que podemos chamar de linguagem culta, estão circundados de ideologias distintas de natureza sociológica, filosófica, teológica e cuja linguagem é dominada e moldada ideologicamente pela camada social mais culta, detentora do poder e do dinheiro, enquanto que a linguagem comum ou xula fica sob o domínio das camadas sociais mais pobres, sem o domínio da linguagem culta, técnico-científica, já que para essas camadas o Estado se encarrega de conceder apenas o necessário ou o indispensável do conhecimento humano para a sobrevivência no campo de trabalho e na execução mais simples de certas atividades. Enquanto, pois, o vocabulário de uma pessoa rica, do tipo que se dedicou aos estudos e ao saber, é rico tanto em termos semiológicos como semióticos, uma pessoa pobre, ao contrário, é-o pobre também na linguagem semiológica e semiótica. O próprio Estado, enquanto ente político e científico, com suas leis e sua forma de estruturação política e organização social é formado graças à linguagem semiótica que as classes dirigentes possuem e que é ideologicamente imposta sobre as massas dessemiotizadas, o que faz com que as massas estejam sempre em estado de cegueira e de alienação a respeito e sobre muitos aspectos da realidade que mantem uma ordem social injusta. A própria revolução de um pais ou as transformações radicais de base social só acontecem graças ao poder e domínio que grupos revolucionários adquirem e manipulam dialeticamente com as formas ou os modelos conceituais da linguagem técnico-científica, o mesmo acontecendo com os revolucionários das ciências, ao resolver, de uma hora para outra, a dar maior extensão ou menor restrição aos conceitos principiológicos dessa ou daquela ciência.
     Se, porventura, os signos objetos da semiótica no campo das ciências naturais sofrem menos modificações no decurso do tempo em relação aos signos semióticos das ciências sociais, isso só pode ser explicado em razão da interferência infinitamente maior da filosofia sobre os conceitos das ciências sociais do que nas ciências naturais, fato que justifica normalmente a rudeza e o analfabetismo de cientistas quando deles se necessita de uma explicação sociologicamente mais crítica de suas disciplinas, o que não acontece com os cientistas sociais quando resolvem esboçar crítica a respeito da importância e  responsabilidade maior que as ciências naturais deveriam ter para com a sociedade, tão necessitada dos benefícios delas. Se, apenas a título de exemplo, esse ou aquele médico representante do Conselho Brasileiro de Medicina tivesse, porventura, conhecimentos aprofundados além da medicina, capaz de ultrapassar as fronteiras da semiótica médica para adentrar na semiótica das ciências sociais, como a História da Medicina, quanto aos seus aspectos sociológicos, políticos, antropológicos e filosóficos, obviamente que ele teria, como pessoa responsável pela vida humana e cidadão de consciência histórico-social, uma interferência crítica relevante a respeito da absoluta ineficiência do Sistema de Saúde Pública Brasileira e a triste realidade do atendimento em muitos Hospitais Públicos, os quais vem sendo equiparado a "matadouros", "campos de concentração", etc. Tecemos apenas um exemplo para mostrar como a melhoria ou mudança de vida de um povo e o desenvolvimento redistributivo de um país poderiam acontecer com mais rapidez se o conjunto dos signos da semiótica fossem do domínio da população.
     A Constituição Federal de um país qualquer, como o nosso, por exemplo, é também representado por dois tipos ou espécies de signos: os comuns e que são estudados pela semiologia, e os técnicos-jurídicos estudados pela semiótica. Sendo, por sua vez, quase que a totalidade da população brasileira semióticamente analfabeta e semiologicamente semianalfabeta, fica melhor compreendido porque os movimentos de reivindicações sociais não tem a mesma consistência histórica que um povo letrado e esclarecido teria. Isso faz com que o Brasil sempre seja (e sempre será) um país dividido entre a civilização e a barbárie, a riqueza infame de poucos e a pobreza miserável de quase todos, afora o fato do país possuir um orgão legiferante que vem sendo formado de homens sem grandes conhecimentos da semiótica jurídica e vindo do meio de uma mesma realidade social, ou seja, despossuída de verdadeiros conhecimentos. O resultado óbvio disso é a inexistência de leis boas para a realidade social, cultural e econômica, mesmo levando-se em consideração que, no papel e apenas nele, o Brasil possui uma Constituição Federal que é de índole essencialmente revolucionária, no sentido de transformar a triste realidade do nosso povo através de emendas constitucionais e leis ordinárias designadas pela própria Carta Magna.
     Sempre que o Brasil atravessa um pleito eleitoral, pode-se dizer, sem sombra de erros, que o povo brasileiro permanecerá no mesmo estado de penúria, faltando-lhe os direitos mais essenciais e elementares para que ele se sinta digno e honrado em seu próprio território, isso em razão pelo próprio paradoxo de sermos um povo despossuído de inteligência semiótica e ainda ser representado por pessoas que são retirados dessa própria realidade social para representar aqueles de cujo meio vieram, ou seja, portadores de consciência semiótica, salvo um ou outro, mas estes normalmente como se fosse proprietários dos partidos políticos. Essa nuança que ninguém tem posto os olhos da curiosidade e o pensamento criticamente mais singular representa, infelizmente, talvez o maior câncer das democracias de hoje, que geram criminosamente uma política desigual para a sociedade como um todo, principalmente com relação a uma boa educação e formação como direito de todos e para todos, indistintamente. Os discursos democráticos tornaram-se obsoletos e repugnantes, principalmente depois que a figura do Estado moderno tornou-se uma extensão dos interesses da economia privada, como acontecera no início da criação dos Estados Constitucionais absolutistas, numa fase em que o erário público era disputado, entre grupos econômicos e proprietários de grandes empresas, através de práticas ilícitas ou criminosas, como estamos presenciando nos dias de hoje, com a tendência, no mundo todo, de assistirmos a situações cada vez mais indecentes e imorais na vida pública e administrativa, como fora justamente o Poder na fase decadente de Roma antiga. 
     Se a irresponsabilidade social e política do Estado democrático atual chega mais rapidamente à consciência desesperada e revoltada do povo, devido as péssimas situações de abandono e péssima assistência do Poder Público, com relação a certos direitos mais necessitados dele, como previdência social, educação, habitação, alimentação, etc. então vamos insuportavelmente testemunhando uma desestruturação ou desagregação social devido a falta de valores sociais importantes e imprescindíveis para que um povo, como um todo, possa viver com mais segurança, paz e harmonia, como, por sinal, boceja nossa Constituição Federal, e não - o que dói muito na alma, ver um contingente humano cada vez mais sendo empurrado para o mundo do crime, das drogas, do tráfico, da prostituição, da mendicância, da loucura e do abandono, formado por homens, jovens, mulheres e jovens brasileiros natos, e isso é, sem sombra de dúvida, um grande crime de estruturação política e com efeitos sociais devastadores.
Guina

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