quinta-feira, 14 de outubro de 2010

MUNDO VASTO MUNDO

hoje o amor acabou, naturalmente
sem choques, espantos e tormentos;
os carros trafegam normalmente...
e neles, os amantes tranquilamente

a televisão anuncia novo progrma
e outra novela virá ao final do mês;
hoje deve ter festa em algum lugar
e os amantes podem ter esperanças

amanhã o amor acabará... normal!
já choramos isso outras vezes, não?
agora, o amor, tanto fez tanto faz

ninguém sofrerá tanto como antes
se morre um amor - e serão muitos!
nada importa: tudo está uma piada.

Guina

ABRAÇO

de ponta a ponta de uma mão a outra
- mãos que se abrem como uma flor
cabe algo tão bonito quanto o mar...
- falo do abraço apertado que se dá

um mar tão lindo quando nos aperta
um aperto tão gostoso de se sentir
um sentir tão imenso que se soma
um somar-se imenso que se infinita

de ponta a ponta de uma mão a outra
cabe tudo, tudo cabe, cabendo tudo
tudo cabendo bem mais que o mundo

se de ponta a ponta fundem-se dois
os dois que se fundem formando um
cabe os beijos mais lindos do mundo.

Guina

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

ETERNA LUTA




     O alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, ou, simplesmente Hegel, como o é mais conhecido, é o autor de uma obra que exerceu grande influência no mundo, desde quando da publicação da mesma, no século XVIII. Estamos falando do seu livro A Fenomenologia do Espírito.
     Entretanto, sabe-se que no campo da literatura o livro desse alemão que mais teve repercussão foi justamente o livro A razão na História, o qual até hoje tem sido uma das obras mais lidas e pesquisadas no mundo todo, por intelectuais, estudantes, psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, etc. Ler tal livro tornou-se como que algo obrigatório para toda ou qualquer pessoa que admira o mundo das letras.
      Se Fenomenologia do Espírito foi, digamos, a obra mais lida na época, principalmente pela intelectualidade da Igreja, podemos dizer, porém, que, quanto ao seu livro A razão na História - uma introdução geral à filosofia da História, parece ser o mais estudado, pesquisado e debatido entre meia dúzia de homens singulares, com relação ao modo de estar no mundo e de agir sobre o mundo. Este livro do qual estamos falando, A razão na História, é fruto e consequência do pensamento interpretativo que Hegel fez sobre a mentalidade filosófica da Grécia antiga e os escritos do Velho Testamento, principalmente aqueles referentes ao Êxodo e sobre a figura de Moisés. Sem essas duas fontes, digamos, uma de natureza filosófica e outra de ordem teológica, Hegel não teria escrito sua A Razão na História, e que é um livro que não ultrapassa a fronteiras das cento e quarenta páginas. 
      Segundo à mentalidade filosófica dos gregos antigos, os deuses do Olimpo exerciam grande influência sobre os homens aqui na Terra, tanto para o bem como para o mal, conforme a conduta de cada qual e a pretenção de cada um dos deuses. Esse fenômeno de intervenção por parte dos deuses na vida pessoal das pessoas não era ainda, entre os gregos, da maneira mais abrangente como se encontra nos textos do Velho Testamento, principalmente com relação aos escritos sobre o Êxodo e em torno da figura de Moisés. Diferentemente da visão grega antiga, no Velho Testamento constatamos a presença ou intervenção de Jeová não apenas na vida das pessoas, mas, também, na vida dos povos em geral.
       Hegel, analisando a mentalidade filosófica da Grécia antiga e a mentalidade teológica do Velho Testamento resolve escrever uma obra que até hoje divide a Humanidade culta em duas partes: os pró Hegel e os contra Hegel. No seu livro A razão na História, Hegel admite que a História não é feita pelos homens e sim através deles e que cujo protagonista dela é Deus, agindo sobre homens escolhidos através de Ideias, estas como expressão do poder Divino que penetra em alguns homens e orienta o cenário da luta histórica através dos mortais. Com isso, dizem que Hegel cria uma filosofia da História e cujo condutor dela nada mais é que o próprio criador do mundo e de todas as coisas: Deus. Aos estudos de Hegel foi dado um nome pejorativo de Metafísica da História, principalmente pelos que não admitiam seu ponto de vista sobre a História e sua realidade: Karl Marx e seus seguidores. 
     Para Karl Marx, também alemão, a realidade Histórica é um fenômeno feito pelos homens e sem qualquer interferência de um deus qualquer. Para Marx, ao invés de algum deus agir através dos homens para dinamizar a História, são simplesmente os homens que a conduzem e tendo como fonte motriz não a a "presença" divina de algum deus, mas simplesmente as contradições histórico-materiais decorrentes das relações sociais de produção. 
     Os dois alemães acima, Hegel e Karl Marx, são, até hoje, os únicos responsáveis, no campo social, de criar uma cisão no pensamento Histórico: o mundo ficou dividido entre aqueles que acreditam na "intervenção" de Deus na vida das pessoas e nos acontecimento da História e aqueles outros que não acreditam em nenhum deus "interferindo" na vida das pessoas e nos fatos da História. Essa polêmica no campo das ideias, desenvolvidas por Hegel e Marx, jamais se chegará a um denominador comum definitivo, além de se constatar certo perigo tanto na filosofia metafísica de Hegel como na filosofia materialista de Marx. 
      Se abraçarmos Hegel, os crimes da História devem ser atribuídos a Deus, o Criador; se admitirmos o materialismo de Marx, os crimes da História são da responsabilidade exclusivamente dos homens. O perigo da Filosofia de Hegel está em não ver culpa alguma no homem, pelos seus atos, já que é Deus que age sobre os homens e através deles; enquanto que o perigo da filosofia de Marx consiste em "matar" Deus e por o homem como o centro de tudo. Uma sociedade sem Deus, é angustiante; uma sociedade com um Deus responsável por todas as coisas, é paradoxal. 
     Afinal, quem detêm a verdade: o alemão Hegel ou o alemão Karl Marx? Aqui estamos diante de duas visões de vida e de mundo e que tem  gerado o que chamamos de a Grande Divisão Gnoseológica Humana, provocando forte influência nas Ciências e na ideologia de alguns modelos de Estado. Hoje,  por exemplo, parece prevalecer dentre os cientistas em geral a teoria materialista, desenvolvida por Karl Marx, principalmente depois da divulgação dos estudos da teoria evolucionista apresentada ao mundo pelo inglês Charles Darwin, cuja teoria vem sendo rigorosamente adotada no campo da política por algumas Nações, a exemplo dos EUA, com sua política de expansão, domínio e de influência sobre os demais países do mundo, desde quando aderiu à corrida armamentista e de produção de armas atômicas; não acontecendo tal mentalidade, entretanto, com relação aos países do  Oriente Médio, os quais, na sua esmagadora maioria, adotam o modelo Estatal teocrático, e não laico. 
     Quando ao mundo presente, apelidado de neo-liberal ou de globalizado pela opinião econômico-financeira mundial, podemos dizer que venceu insofismavelmente o materialismo de Marx juntamente com o Evolucionismo de Charles Darwin, mas ambas as teorias aplicadas exclusivamente no campo da competitividade econômica ou de mercado. Com relação ao mundo religioso, estamos presenciando grande transformação, diferentemente dos tempos históricos mais recuados, isso possivelmente por força das modificações e transformações materiais e econômicas ocorridas nas últimas décadas. Diferentemente da realidade do passado, as Igrejas, muitas delas, já se lançam à frente no sentido de assumirem toda uma forma ou estrutura empresarial, lançando mãos dos meios e recursos da tecnologia moderna e dos métodos de manipulação e mercantilismo da fé humana. Nesse aspecto, lamentalvemente, parece que o futuro nos trará uma pregação metafísica voltada para a manipulação da mente das massas e pela formação de grandes fortunas expressadas por aquisição de imóveis e dos mais diversos meios que a tecnologia propõe, como rádio, canais de televisão, jornais, revistas, etc. E, nesse aspecto peculiar, o religioso sairá das premissas do criador do Cristianismo, Cristo, para atender a outros interesses, pessoais ou de grupos.
      Quando o filósofo Friedrich Nietzsche, também alemão, disse, no seu livro A Gaia  Ciência, a frase "Deus está morto", poucos e raros os que entenderam e compreenderam o grito daquele filósofo. Sua célebre frase foi, em verdade, a mais forte e impactante profecia já dita por um simples mortal, e talvez ele não o tivesse dito tal frase se, porventura, não fosse um dos maiores leitores e vorazes da cultura grega antiga, além de filólogo e conhecedor da língua grega, e que agora, ao que parece, já se começa a ser constatada, pois, para aquele pensador por todos temido ele quis dizer que os avanços naturais e inevitáveis das técnicas e da tecnologia, a expansão mundial do mercado e os interesses meramente econômicos entre os homens, estes, por sua vez, dariam continuidade, pela segunda vez, a matança de Deus, na pessoa do seu filho, representante daquele. E aos poucos estamos constatando tal veracidade, à medida em que os valores científicos vão predominando sobre os teológicos, à medida em que os valores materiais vão predominando sobre os morais, à medida em que o dinheiro vai predominando sobre o amor, à medida em que Deus vai sendo relativizado, à medida em que os valores humanos de natureza filosófica e cristãos vão sendo substituídos pela hipocrisia sutil e pelos interesses egoístas, à medida em que as Igrejas vão substituindo a prática cristã pelas práticas farisaicas, etc.  
     Quando, pois, o filósofo Nietzsche disse: "Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje!", não estamos diante de uma lamentação ou de uma exaltação manifestada pelo filósofo, mas, segundo o filósofo,  de uma constatação a partir da qual o mundo caminharia, como caminha, para a superação dos valores metafísicos pelas técnicas, além do fato dos homens não mais passarem a aceitar numa ordem cósmica transcendente e responsável pelos destinos da Humanidade aqui na Terra, fato que, conforme o filósofo, fará nascer sobre a terra a rejeição dos valores absolutos e o nascimento na descrença de quaisquer valores, fazendo com que a vida do homem perdesse seu sentido teológico para predominar o sentido material das coisas. 
      As ideias de Hegel são, digamos, ainda predominantes no mundo religioso e nas massas leigas, com suas relatividades e formas antagônicas ou dúbias, e, por estarem tais ideias no campo do antagonismo e da dubialidade, não seria erro dizer que elas, no seu conjunto, são responsáveis pela manutenção e preservação da ingenuidade social e política das massas em todos os países do mundo e do atraso material e espiritual que tais massas se encontram, daí, nessa particularidade, o grande embate ideológico, por exemplo, entre o pensamento do teólogo Leonardo Boff, representante da Teologia da Libertação, e a Igreja  Católica Apostólica Romana, representada na figura do seu Sumo Sacerdote, o Papa. Quanto ao pensamento materialista de Marx e ao pensamento evolucionista de Darwim, podemos dizer que  os que adotam tais premissas, e eles são a grande parte esmagadora dos que detêm o poder político e o poder econômico em sua grande escala, em verdade há muito que não concebem mais os pensamentos de Hegel, assim com no passado recuado, na época de Roma antiga, os próprios Césares e expressiva personalidades da classe patrícia detentora de grandes fortunas não acreditavam mais nos seus próprios deuses, embora fosse proibido e submetido à pena de morte todo aquele que do povo desacreditasse num desses deuses. 
     Assim como o cérebro humano é  dividido entre dois hemisfério, com funções diferentes, mas trabalhando entre si como um todo, assim como a Terra é dividida entre dois pólos, hemisfério Norte e hemisfério Sul, assim como a mente humana é dividida em duas partes, consciente e inconsciente, também é verdade dizer que tanto Hegel como Karl Marx, ambos alemães, foram os responsáveis na divisão da alma humana: uma que é cristã, metafísica e outra que é materialista e atéia, como também são os responsáveis pela forma de pensar o mundo e a história de nossos tempos, em todos os campos propriamente dito.

Guina

BEIJAMENTO



tua boca nua como nenhuma
apenas nela a ousadia crua
tua boca mais pura do mundo
epanas nela pulso e impulsos

tua boca nua como um uivo
nela apenas a vida pulsando
tua boca mais santa do mundo
nela apenas o vermelho-sange

tua boca apenas dada e voraz
aberta, entreaberta e risonha
com uma ânsia de mais e mais

a tua boca secreta de bocas...
revirando, mudando, revirada 
tua boca ao avesso, gozada. 

Guina

PRECISÃO



Sim, é preciso antes de mais nada
A conversa íntima com as palavras
Como quem toca na flor retraída
Ou num ferro pontudo e amolado

Sim, é preciso antes de mais nada
A conversa franca com as palavras
Como quem saboreia algum fruto
Como quem prova o ferro à brasa

Sim, é preciso antes de mais nada
A dura conversa com cada palavra
Sem medo da morte crucificada...

Escrever por tudo e para ninguém
Como quem rica nos céus, à terra
Como quem risca na terra, os céus.

Guina

A FERA FERIDA



     Vindo de uma família pobre e tendo experimentado as carências materiais decorrentes desse estado, sempre alimentou um sonho dentro de si: ser um dia o homem mais rico da sua cidade. Não mediu esforços, desde cedo: trocou os estudos pelo trabalho. Quando alguém lhe dizia que estava cometendo uma loucura, costumava se sair dizendo que estudos não ia lhe dar o que pretendia, mas não dizia o que.
      O mundo do trabalho dedicado e de economias juntadas acabou lhe dando uma oportunidade para abrir seu próprio negócio na cidade: uma pequena empresa responsável na realização de cerimoniais, atendendo a clientes que queriam realizar casamentos, aniversários e coisas similares. Tornou-se com isso muito conhecido, ao ponto de se tornar amigo de um jovem chamado Fernando, filho do prefeito da cidade, para quem sua pequena empresa prestara um desses seus serviços, e soube se aproveitar muito bem dessa amizade, mesmo que os meios utilizados para ele fossem repugnantes e indignos para a boa moral e os bons costumes, e não mediu esforços. 
     Quem não queria conhecer o encantado mundo da intimidade de Dolores, irmã de Jurandir, dono da humilde firma de eventos? Dolores, apesar de ter vindo de uma família pobre, a natureza lhe compensou com uma beleza de fazer cair o queixo de qualquer homem, principalmente o de Josean, filho predileto do prefeito. E este tudo fez por seu amigo no sentido de, através do pai, fazer com que sua pequena empresa de eventos crescesse. Em troca desses favores Josean abriu o jogo ao amigo: queria ser o primeiro homem da vida de sua irmã, o que, de início, deixou Jurandir meio confuso, depois se encarregou para unir os dois. 
      Dolores foi apresentada a ele, numa festinha da casa do seu pai. Ao tentar beijá-lo, influenciado pelo irmão, ela se recusou dizendo ter namorado, com quem se pretende se casar em breve. Não ter aceitado o beijo dele, recusando-o como a um qualquer, acabou ferindo o machismo dele, filho do prefeito da cidade, e levou aquele "não" como um desaforo a ser derrubado, custasse o que custasse, e no outro dia fez seus comentários ao pai, o "dono" da cidade. Dr. Geraldo sentiu as mesas dores do filho e foi incisivo dizendo que a situação ele iria resolver depois, numa conversa franca que iria ter com Jurandir. 
     Uma semana após aquela festa Jurandir teve que comparecer ao gabinete do prefeito, para tratar de assuntos pessoais e do interesse dele. No gabinete o "dono" da cidade ao recebê-lo foi franco e tocou direto no assunto: queria que sua irmã acabasse o namoro para ficar com seu filho e, em troca, abriria os caminhos promissores para ele no mundo da política, o que lhe renderia muito mais dinheiro do que sua simples firma de eventos e já com algumas dívidas com impostos municipais. Jurandir demorou um pouco para responder ao prefeito, mas quando se imaginou ser vereador na cidade, apoiado pelo prefeito e percebendo que poderia fazer do cargo eletivo um trampolim para realizar seu sonho de riqueza, metendo a mão no erário público, como era comum fazer os políticos da cidade, acabou acatando ao pedido da autoridade máxima de São Domingos do Itaporó. 
     Em casa Dolores acreditou na história sobre Fernando, seu namorado, ao comentar, pedindo segredo, que ele era isso e aquilo, o que acabou afastando ela dele aos poucos, o que acabou facilitando o encontro, às escondidas, entre ela e Josean: tudo de longe muito bem acompanhado pelo seu pai, graças as informações passadas pelo próprio Jurandir. Saber que o filho estava tendo caso com Dolores, e para cada informação dada por Jurandir a ele aquele era sempre bem beneficiado, financeiramente, a situação acabou envolvendo, também, o prefeito, que passou a adquirir boa amizade com Jurandir e propôs a dar boa soma de dinheiro se ele dormisse apenas um dia Dolores, e sem o conhecimento do filho que se tornara apaixonado por ele e com desejos de casamento. 
      Se Dr. Geraldo era o "dono" da cidade, Jurandir era o "dono" da casa, depois que seu pai falecera. Era ele quem mantinha a casa, graças ao seu pequeno estabelecimento comercial, pagando luz, água, telefone e pondo os alimentos na mesa, além de ajudar a irmã mais cobiçada da cidade, com roupas e um curso de informática. Dolores achou o fim do mundo quando seu irmão lhe segredou o desejo do seu novo patrão e padrinho de uma carreira política promissora, depois, convivendo com aquilo no juízo, em segredo absoluto, e com a proposta de um bom emprego que seria arranjado pelo prefeito para ela, acabou aceitando sob uma única condição: que fosse por uma vez apenas. 
      Quando a notícia chegou aos ouvidos de Dr. Geraldo, este não se incomodou e, no dia e hora previamente marcadas, os dois se encontraram no local pré avisado, sob os olhos de Jurandir. Quando o carro conversível tomou destino ignorado, Jurandir sentiu ódio de si mesmo e da irmã, por ela ter aceito o filho do prefeito, por ele ter acabado o namoro da irmã com quem ela amava tanto e, embriagado por esse ódio, sentiu revolta e nojo do mundo e partiu para a vingança, indo, cegamente, na casa do prefeito. 
     - É pura verdade, senhora Jacira - disse ele a mulher do prefeito. - e não é verdade que ele vai à capital resolver protocolo nenhum - finalizou, sentando-se no sofá atendendo a gentileza da primeira dama. 
     - Meu filho pretendia se casar com ela, meu Deus! - a mulher estava tomada pela perplexidade e pelo ódio, e acabou deixando um bilhete sobre a mesa explicando toda a situação ocorrida entre Dolores e Dr. Geraldo, e partiu para a capital levando Jurandir para flagrá-los no Hotel que haviam combinados. Durante toda a viagem D. Jacira parecia que ia dar um ataque de nervos no volante, enquanto Jurandir procurava acalmá-la. 
      Na capital, enquanto o prefeito esbanjava dinheiro pela cidade, como se fosse capim, ao lado de Dolores, que parecia mais uma raínha do que uma humilde mulher de uma cidadezinha do fim do mundo, a primeira dama entrava peito a dentro no Hotel a procura do número do quarto em que Dr. Geraldo se encontrava hospedado. O recepcionista, muito educado e cortês, não quis revelar, acatando e fazendo cumprir as determinações da administração do estabelecimento, obstáculo logo desfeito quando ela derramou sobre a mesa algumas notas de dinheiro, em troca da quebra das ordens da administração, e obteve facilmente o número do quarto e as chaves. 
     O quarto estava impregnado de perfume excitante por todo canto, objetos largados pelo chão, cama desfeita e a Tv que esqueceram ligada, num canal privado que passa filmes de sexo explícito. 
      - Vagabundo! - dizia a primeira dama, tremendo da cabeça aos pés. 
      - Canalha - falava Jurandir.
      - Isso é coisa? E essa não é a primeira vez, não! - comentava ela.
      - Canalha! - repetia Jurandir, enquanto colocava uma dose dupla de um whisky finamente importado no copo. 
      - Só bebendo - disse ela com ar de imponência. 
      Depois de praticamente secada a garrafa de whisky resolveu interfonar para a portaria pedindo que não informasse que ela estava ali, aguardando-o. Prontamente sua ordem fora acatada pelo recepcionista. 
      Lá pelas tantas os dois chegam abraçados, cheios de compras  e risinhos  apaixonados, pegam o elevador e, finalmente abrem o quarto. O susto é grande e a desgraça é feia: a primeira dama galopava completamente nua em cima de Jurandir que lhe segurava firmemente pela cintura.
      - Jacira! Jurandir! - Dr. Geraldo não acreditava no que via. 
      - Jurandir! - gritava Dolores.
      Nua como estava, nua ficou. E saiu de cima para se defender:
      - Prá um traidor, meu filho, uma traidora - bradava a primeira dama, nua, protegendo seu novo caso, com todo peito e coragem, enquanto Jurandir, cinicamente, pedia desculpas.

Guina

O FIM DO HOMEM



     Quando menino, lembro-me que o maior medo com o qual tínhamos que conviver, principalmente quando íamos dormir, era com relação ao fim do mundo, ou seja, o dia em que o mundo ia se acabar. Os mais velhos - nunca me esqueci disso, diziam, naquela época, que o mundo não passaria do ano 2000. Nesse ano, segundo a maldade dos mais velhos pelos inocentes, nesse ano (2000) ninguém ficaria vivo, ninguém! 
      Como as crianças são muito imaginativas, então, quando ficávamos frente a casa de nossos avós, à noite, brincando de contar estrelas, além de dizer que São Jorge com seu cavalo moravam na lua e que a lua flutuava pelo céu porque era uma imensa bola que ficava deslizando pelas nuvens ou era pelos ventos fortes que aconteciam lá no alto, no céu, então ficávamos procurando alguma forma de nos mantermos vivos, quando o fim do mundo chegasse, e a solução melhor era justamente a de construirmos uma casa debaixo da terra para não morrermos. Ora, mais aí vinha novamente nossas imaginações - melhor seria dizer nossas contra-imaginações, e ficávamos debatendo como iríamos viver debaixo da terra sem luz, sem água, sem alimentos, etc. Então a conclusão que na época chegamos é que realmente quando o fim do mundo chegasse, em 2000, todos, indistintamente, morreriam. E isso nos deixava muito angustiado e talvez fizesse um bem muito grande aos adultos. 
     Como o fim do mundo já tinha o ano certo, faltava, porém, o dia, o mês e a hora, e isso ninguém sabia. Outra coisa que não era unânime nas previsões dos adultos daquela época, era com relação de que maneira o mundo iria se acabar. Havia, entre aqueles "trogloditas", grande confusão ou discórdia com relação à especificamente geradora. Uma coisa era comum entre todos eles: quem iria destruir o mundo seria Deus, o mesmo que um dia o construiu. Isso também nos deixava muito angustiado porque a figura de Deus que  nos havia passado, tanto pela Igreja, nos catecismos aos domingos, como pelas Escolas, nas aulas de religião, era a de um Pai bom e feito só de amor. Confesso: gostávamos de Deus, mas tínhamos também medo e raiva dele. Essa foi, talvez, a primeira e mais perturbadora neurose que os adultos podem colocar na cabecinha bonita de uma criança, e nunca vamos saber se é a partir dessa e de outras besteiras que os adultos fazem com as crianças que as criancinhas um dia ficam adultas tão ruins e perversas quanto aqueles adultos, mas não podíamos fazer nada: os adultos sempre podem tudo sobre a terra. 
      Bom, quem ia acabar o mundo já se sabia, seria Deus. Mas, é quanto a maneira de destruí-lo que os adultos mais "brigavam" entre si. Uns diziam que Deus acabaria o mundo com fogo - ai como isso maltratava e desesperava o coraçãozinho de uma criança; dormíamos, toda noite, pedindo para que Deus nunca fizesse uma maldade dessas conosco, nem com as pessoas em geral. Outros já diziam que o mundo seria destruído por água, a mando de Deus. Segundo estes, o mar subiria mais de não sei quantos metros e tomaria toda a terra. Quando diziam isso nos enchiam os olhinhos de lágrimas, porque não sabíamos nadar e ficávamos imaginando como seria doloroso morrer afogado sob o mundo de águas cobrindo a terra toda. Essa época, a do fim do mundo, foi a época que, lembro-me como hoje, foi o tempo em que dormíamos com a cabeça coberta, os olhos assustadinhos e tínhamos os primeiros pesadelos: eram sonhos horríveis.
     Hoje, porém, tudo isso acabou, graças a Deus! Mas, pensando bem, o fim do mundo não acabou e ele está previsto nos textos Bíblicos, escrito por João, no livro Apocalipse. Na verdade, não é bem  o " fim do mundo", mas o "julgamento do mundo", e que significa o dia em que Deus descerá dos céus, com todos os seus anjos, miríades e miríades de anjos, para julgar todos os homens da terra, os que na época estiverem vivos e os que já morreram, já que serão ressuscitados pela força, glória e poder de Deus para serem retamente julgados, conforme as obras de cada qual (atos, palavras, pensamentos, etc). O ano, o dia, o mês e o horário não existem no livro de João, o Apocalipse. Esta data faz parte dos segredos do Criador e nenhum vivente jamais saberá, nem mesmo os anjos dos céus sabem.
      Como o homem é um animal dotado de inteligência e curiosidade, tanto para o bem como para, então logo o homem se encarregou de dar um desdobramento nas ciências teológicas para criar uma especialidade, a Escatologia, como um ramo de estudos que pesquisam a Bíblia, especialmente o livro Apocalipse, escrito pelo apóstolo João, para saber, exatamente, qual seria o fato ou conjunto de fatos precedentes para que fosse estabelecido o fim do mundo, ou melhor, para que Deus descesse dos céus, com os anjos, para julgar os vivos e os mortos, em definitivo e eternamente. Aqui começa uma guerra no campo das especulações metafísicas ou teológicas, entre muitas correntes religiosas, principalmente entre católicos e protestantes, e isso sem falar de uma série de doutrinas religiosas que não acreditam absolutamente em nada disso, como são as que adotam os princípios da reencarnação, como as espíritas. Bom, a problemática do fim do mundo - ou do julgamento do mundo,  ainda permanece nos dias de hoje, e, talvez, causando os mesmos males nas criancinhas como causaram em nós, quando ainda ingênuos e contadores de estrelas. 
     Tudo, até hoje, sobre o fim do mundo ou o julgamento deste não passa de especulações no mundo da subjetividade e da imaginação do homem, pois nem o homem comum, nem algum pastor, padre, bispo ou papa jamais teve qualquer convicção sobre tal assunto, de natureza tão complexa e problemática, e que, por sinal, sempre foi objeto de reflexões e interpretações,  já desde as antigas civilizações, muito antes do aparecimento de Cristo sobre a terra, como, a exemplo, foram as civilizações egípcia e a grega antigas. Essa polêmica, nos dias de hoje, tem sido a mola mestra de sustentação de muitas religiões, espalhadas por muitos cantos do mundo através de seus templos religiosos, e muitas vezes maliciosamente utilizada como melhor forma de dominar a mente de seus fiéis, à custa de outros interesses, principalmente em razão do fato da razão crítica e da reflexão independente ser um privilégio de poucos e, por outro lado, a mentalidade medieval, formada pelo espírito inculto e místico, nunca ter desaparecido da terra. 
      Se, porventura, virá o fim do mundo, ou melhor dizendo, o dia em que Deus descerá dos céus com seu exército de anjos para julgar todos os homens, vivos e mortos, conforme a cadeia de atos praticados por cada qual sobre a terra e em convívio com os homens, excluindo os loucos em geral e todas as criancinhas, isso está sob o exclusivo critério de Deus, para quem nele acredita. Se, particularmente não posso prever o dia em que o Criador descerá dos céus à terra para fazer esse grande e tenebroso julgamento, posso, intuitivamente, prever, como previram aqueles adultos chatos quando eu era ainda uma criancinha que gostava de contar estrelas e dizer que São Jorge morava na lua com seu cavalo, não o ano, o mês, o dia e o horário exatos em que o homem vai se acabar sobre a terra, como talvez já esteja acontecendo isso, dentro dele, aos poucos. 
       O dia em que o homem vai se acabar sobre a terra eu o vi, como quem vê um sinal profético nos céus, quando, a uns dois meses atrás, viajando para uma cidade do interior avistei, à margem da estrada, exatamente quatro casebres praticamente caíndo aos pedaços e, pela triste aparência e estado de miséria, havia, em cada um desses infames casebres, ao lado de cada um deles, uma luxuosa antena parabólica, o que me deixou em estado de profunda assombração e, prever, como faziam normalmente os profetas do passado, e como fazem os de hoje, não o ano, mês, dia e horário em que o homem chegará ao seu fim, já que para tal escatologia cibernética, dependerá da disseminação e proliferação do mercado de vendas, distribuição e de televisores para todas as partes do mundo, todas as casas e lares da terra. Aí, quando isso acontecer - e talvez não leve muitos anos mais, o homem ganhará seu fim, num mar de águas profundas e turvas carregadas densamente de toda ordem e forma de malícia, concupicência, violência, aflição, angústia, solidão e desespero. Naqueles quatro casebre, caíndo aos pedaços, à beira do asfalto, foi que vi, não o fim do mundo, não o julgamento do mundo, mas o fim do homem.


Guina

A OUTRA FILOSOFIA

eis o que vejo ao abrir a porta?
- a filosofia nua, deitata despida!
com a soltura dos cabelos, lindo!
a turvar minha douta sabedoria

eis o que vejo ao abrir a porta?
o seio lindo e duros para os céus 

a calar minha voz em profundo 
essa filha da louca torre de Babel

eis o que vejo ao abrir a porta?
- seios, coxas, vulva, bunda...
com seu riso formoso para tudo 

eis o que vejo ao abrir a porta 
os céus, os infernos e paraísos
bem acima da minha filosofia. 



Guina

AMIZADE

que bom o abraço que se dá e recebe
do amigo que nos encontra e conversa
num momento de inesperado da vida
quando o vago do dia é o que nos leva


são esses poemas de belos encontros
que põe na alma o brilho da felicidade
e nos deixa com que dias vindouros
seja essa esperança do fato renovar-se


amigos aqui, ali; eles por todo lado
até mesmo os que nos surgem on-line
essa nova fórmula para poder suportar


os amigos que de carne e osso falam
mas que a pressa do tempo escondem
nos turbilhões loucos das cidades .
Guina

"HAVAIANAS"

Se me viesse um amor de "havaianas"
- não amores de Shoppings, levianos!
Falo de um amor que pedala bicicleta
E, entre abraços, olha o sol anoitecer


Se me viesse um amor de "havaianas"
- não amores de passarelas, volúveis!
Falo de um amor que recita poemas
E, entre beijos, faz a cama estremecer


Se me viesse um amor de "havaianas"
- não amores cheio de etiquetas, não!
Falo de um amor que se dá ao natural


Se me viesse um amor de "havaianas"
- não amor de falácias, puro simulacro
Ah, se existisse amor de "havaianas"!  

Guina

LETRAS SIM; FUTEBOL, NÃO




     A ciência responsável pelo estudo da linguagem, enquanto conjunto de signos linguísticos, recebeu o nome de Semiologia. A Semiologia é, portanto, a Ciência dos signos linguísticos utilizados pelos homens no seu universo de comunicação em geral
     Dito isto e, levando-se obviamente em consideração que todo ramo da ciência, sejam elas sociais ou naturais, tem uma linguagem própria e que vulgarmente chamamos de linguagem técnica, representada por conceitos próprios e específicos não existente com vida própria e autônoma em todo ou qualquer saber científico. Para se ter uma idéia quando falamos em Direito, Medicina, Engenharia, Fisica, Biologia, etc. estamos falando de ramos distintos do saber  humano com uma linguagem própria, como se fosse uma constelação ou constituição de conceitos específicos. 
     Entretanto, podemos dizer que atualmente a Ciência da Semiologia sofreu um desdobramento com o surgimento do termo Semiótica, ou seja, uma parte da Semiologia que estuda exclusivamente os conceitos, termos ou signos técnicos que formam cada espécie do saber científico. Portanto, se a Semiologia estuda a linguagem como um todo, isto é, todo ou qualquer signo linguístico, já a Semiótica procura estudar apenas os termos ou conceitos técnicos, de  conteúdos universais e mais fixos à modificações, formadores, axiologicamente falando, de juízos. Para se ter uma ideia, quando pronunciamos certas palavras como: liberdade, democracia, amor, justiça, bem, guerra, etc. estamos querendo dizer que elas não são expressões corriqueiras na vida do homem e sim signos ou conceitos mais incomuns e que formam, no seu conjunto, o arcabouço dessa ou daquela ciência. Outro exemplo melhor: a linguagem técnica da Medicina não é a mesma da do Direito e o deste não pode ser o mesmo utilizado pela Matemática. 
     Tanto as palavras comuns, utilizadas diariamente pelos homens no seu cotidiado - lembrando-se que estas são estudadas pela Semiologia, como os chamados conceitos técnico-científicos - aqui como signos especiais estudados pela Semiótica, sofrem modificações ou variações de significados por força do decurso do tempo: uma mesma palavra hoje, seja ela um signo linguístico comum ou especial, pode ter no amanhã uma outra dimensão de significado no mundo da comunicação humana, além de exercer importante  força na mentalidade das pessoas, criando novas formas de pensar sobre a realidade social de uma época. Isso significa o mesmo que dizer que são os conceitos técnico-científicos carregados de subjetividade e universalidades, com seus contornos sociológicos, antropológicos e filosóficos que mais exercem influência sobre os povos e a História. 
     Semiologicamente falando, se os signos ou palavras comuns sofrem um desgaste mais rápido pela ação do tempo histórico, o mesmo, por sua vez, não se pode falar daqueles conceitos responsáveis pela Semiótica, por se tratar justamente de expressões incomuns, de conteúdo historicamente mais duradouro e sempre mais difíceis de serem abruptamente modificados pela própria História, pois que tais signos são como os sustentáculos do saber científico e os pilares da História, no sentido de fazer com que não aconteça tantas oscilações de mentalidade social. A modificação de um signo comum não altera a vida social nem causa rebuliços na mentalidade de uma época, enquanto que  havendo mudança ou interpretação mais extensiva no significado dos signos técnico-científicos, aí sim, interfere na vida social e causa perturbações históricas. 
      Fazendo-se essa distinção entre Semiologia e Semiótica, signos ou palavras comuns e signos ou conceitos técnico-científicos, vamos chegar facilmente à conclusão que os signos técnico-científicos, que podemos chamar de linguagem culta, estão circundados de ideologias distintas de natureza sociológica, filosófica, teológica e cuja linguagem é dominada e moldada ideologicamente pela camada social mais culta, detentora do poder e do dinheiro, enquanto que a linguagem comum ou xula fica sob o domínio das camadas sociais mais pobres, sem o domínio da linguagem culta, técnico-científica, já que para essas camadas o Estado se encarrega de conceder apenas o necessário ou o indispensável do conhecimento humano para a sobrevivência no campo de trabalho e na execução mais simples de certas atividades. Enquanto, pois, o vocabulário de uma pessoa rica, do tipo que se dedicou aos estudos e ao saber, é rico tanto em termos semiológicos como semióticos, uma pessoa pobre, ao contrário, é-o pobre também na linguagem semiológica e semiótica. O próprio Estado, enquanto ente político e científico, com suas leis e sua forma de estruturação política e organização social é formado graças à linguagem semiótica que as classes dirigentes possuem e que é ideologicamente imposta sobre as massas dessemiotizadas, o que faz com que as massas estejam sempre em estado de cegueira e de alienação a respeito e sobre muitos aspectos da realidade que mantem uma ordem social injusta. A própria revolução de um pais ou as transformações radicais de base social só acontecem graças ao poder e domínio que grupos revolucionários adquirem e manipulam dialeticamente com as formas ou os modelos conceituais da linguagem técnico-científica, o mesmo acontecendo com os revolucionários das ciências, ao resolver, de uma hora para outra, a dar maior extensão ou menor restrição aos conceitos principiológicos dessa ou daquela ciência.
     Se, porventura, os signos objetos da semiótica no campo das ciências naturais sofrem menos modificações no decurso do tempo em relação aos signos semióticos das ciências sociais, isso só pode ser explicado em razão da interferência infinitamente maior da filosofia sobre os conceitos das ciências sociais do que nas ciências naturais, fato que justifica normalmente a rudeza e o analfabetismo de cientistas quando deles se necessita de uma explicação sociologicamente mais crítica de suas disciplinas, o que não acontece com os cientistas sociais quando resolvem esboçar crítica a respeito da importância e  responsabilidade maior que as ciências naturais deveriam ter para com a sociedade, tão necessitada dos benefícios delas. Se, apenas a título de exemplo, esse ou aquele médico representante do Conselho Brasileiro de Medicina tivesse, porventura, conhecimentos aprofundados além da medicina, capaz de ultrapassar as fronteiras da semiótica médica para adentrar na semiótica das ciências sociais, como a História da Medicina, quanto aos seus aspectos sociológicos, políticos, antropológicos e filosóficos, obviamente que ele teria, como pessoa responsável pela vida humana e cidadão de consciência histórico-social, uma interferência crítica relevante a respeito da absoluta ineficiência do Sistema de Saúde Pública Brasileira e a triste realidade do atendimento em muitos Hospitais Públicos, os quais vem sendo equiparado a "matadouros", "campos de concentração", etc. Tecemos apenas um exemplo para mostrar como a melhoria ou mudança de vida de um povo e o desenvolvimento redistributivo de um país poderiam acontecer com mais rapidez se o conjunto dos signos da semiótica fossem do domínio da população.
     A Constituição Federal de um país qualquer, como o nosso, por exemplo, é também representado por dois tipos ou espécies de signos: os comuns e que são estudados pela semiologia, e os técnicos-jurídicos estudados pela semiótica. Sendo, por sua vez, quase que a totalidade da população brasileira semióticamente analfabeta e semiologicamente semianalfabeta, fica melhor compreendido porque os movimentos de reivindicações sociais não tem a mesma consistência histórica que um povo letrado e esclarecido teria. Isso faz com que o Brasil sempre seja (e sempre será) um país dividido entre a civilização e a barbárie, a riqueza infame de poucos e a pobreza miserável de quase todos, afora o fato do país possuir um orgão legiferante que vem sendo formado de homens sem grandes conhecimentos da semiótica jurídica e vindo do meio de uma mesma realidade social, ou seja, despossuída de verdadeiros conhecimentos. O resultado óbvio disso é a inexistência de leis boas para a realidade social, cultural e econômica, mesmo levando-se em consideração que, no papel e apenas nele, o Brasil possui uma Constituição Federal que é de índole essencialmente revolucionária, no sentido de transformar a triste realidade do nosso povo através de emendas constitucionais e leis ordinárias designadas pela própria Carta Magna.
     Sempre que o Brasil atravessa um pleito eleitoral, pode-se dizer, sem sombra de erros, que o povo brasileiro permanecerá no mesmo estado de penúria, faltando-lhe os direitos mais essenciais e elementares para que ele se sinta digno e honrado em seu próprio território, isso em razão pelo próprio paradoxo de sermos um povo despossuído de inteligência semiótica e ainda ser representado por pessoas que são retirados dessa própria realidade social para representar aqueles de cujo meio vieram, ou seja, portadores de consciência semiótica, salvo um ou outro, mas estes normalmente como se fosse proprietários dos partidos políticos. Essa nuança que ninguém tem posto os olhos da curiosidade e o pensamento criticamente mais singular representa, infelizmente, talvez o maior câncer das democracias de hoje, que geram criminosamente uma política desigual para a sociedade como um todo, principalmente com relação a uma boa educação e formação como direito de todos e para todos, indistintamente. Os discursos democráticos tornaram-se obsoletos e repugnantes, principalmente depois que a figura do Estado moderno tornou-se uma extensão dos interesses da economia privada, como acontecera no início da criação dos Estados Constitucionais absolutistas, numa fase em que o erário público era disputado, entre grupos econômicos e proprietários de grandes empresas, através de práticas ilícitas ou criminosas, como estamos presenciando nos dias de hoje, com a tendência, no mundo todo, de assistirmos a situações cada vez mais indecentes e imorais na vida pública e administrativa, como fora justamente o Poder na fase decadente de Roma antiga. 
     Se a irresponsabilidade social e política do Estado democrático atual chega mais rapidamente à consciência desesperada e revoltada do povo, devido as péssimas situações de abandono e péssima assistência do Poder Público, com relação a certos direitos mais necessitados dele, como previdência social, educação, habitação, alimentação, etc. então vamos insuportavelmente testemunhando uma desestruturação ou desagregação social devido a falta de valores sociais importantes e imprescindíveis para que um povo, como um todo, possa viver com mais segurança, paz e harmonia, como, por sinal, boceja nossa Constituição Federal, e não - o que dói muito na alma, ver um contingente humano cada vez mais sendo empurrado para o mundo do crime, das drogas, do tráfico, da prostituição, da mendicância, da loucura e do abandono, formado por homens, jovens, mulheres e jovens brasileiros natos, e isso é, sem sombra de dúvida, um grande crime de estruturação política e com efeitos sociais devastadores.
Guina

FÉRETRO II



o féretro é do poeta, um louco varrido 
que ainda ontem, ainda um morto-vivo
fazia do beijo a sua desesperada sina
e pelos beijos ardentes vivia perdido...

morreu de súbito aceso e escrevendo 
arrancando a paixão das suas vísceras 
e dando ao mundo sua cruz reluzente
que carregava como se fosse um canto

em vida disse ser tudo mera tormenta
uma cadência de ilusoẽs e sofrimentos 
e via no beijo profundo a melhor saída

esse é o corpo morto do poeta risonho
que morto parece estar rindo de tudo 
e no riso vive seu mais novo enigma.


Guina

UMA “REPÚBLICA” EMPILHADA DE FAVELAS E MISERÁVEIS



            Nessas eleições, para que, obrigatoriamente, o povo votasse escolhendo seus supostos representantes para os cargos de Deputados (estaduais e federais), Senadores e Presidente e vice-presidentes da República Federativa dos Estados Unidos do Brasil e, com fundamento no Pleito Eleitoral e no Escrutínio Secreto para que as instituições, posteriormente, passassem a gozar, perante o próprio povo, o privilégio de órgãos nacionalmente referendados por ele, a maioria, e com suas leis, quando criadas, legalmente respaldadas no princípio constitucional alegando que “todo poder provêm do povo, mas que é exercido por seus representantes legais”, lembrei-me, enquanto saía de minha residência para minha Zona Eleitoral, do grande escritor russo Leon Tolstoi, autor de diversos romances e considerado até hoje, depois da sua morte, ocorrida no século XIX, em 20/11/1910, como um dos maiores escritores e pensadores de todos os tempos, comparado e equiparado, em razão pela qualidade moral e crítica como escrevia, aos grandes escritores e filósofos gregos antigos.
            Pensei no Conde Liev Tolstoi, não em razão de ter lido toda a sua obra até então traduzida para o nosso português, além de outras diversas obras que lhe retratam, mas simplesmente por ter lido, certa vez, num de seus livros, titulado QUE É A ARTE?, na parte introdutória, um depoimento dele, com relação a situação das condições de vida em que o povo russo vivia em São Petersburgo, e, por extensão conclusiva, com relação às demais cidades da Rússia daquela época. Assim como, naquela época, o escritor russo se sentiu, na alma, constrangido e indignado com as condições de miséria e de vida miserável como o povo russo se encontrava, também experimentei, aqui no Brasil, como poeta, o mesmo amargor na alma quando saí de casa para votar, contra a minha livre, espontânea, herética e intelectual vontade, mas simplesmente em decorrência de um dispositivo constitucional opressivo e opressor e que reduz o exercício do voto à obrigatoriedade, aos maiores de dezoito anos, sob as penas da lei.  E é sobre isso - assim como fez Leon Tolstoi, ao sair de sua casa, no pequeno povoado de Yasnaya Polyana, não para votar, mas para resolver alguns problemas pessoais e visitar alguns parentes próximos -, que vou falar o que meus olhos, com meticulosidade de visão cirúrgica, mediúnica e tubércula perceberam.
            Assim que pus meus pés na rua, semelhantemente quando, naquela época, Leon Tolstoi saltou do tilburi e ergueu os olhos em torno do lugar onde se encontrava, vi a miséria social do povo brasileiro em seus vários estragos ou encadeamentos, desde o individuo subnutrido, passado pelo desnutrido até chegar ao propriamente faminto, e isso em plena rua, pelas praças, becos e avenidas, um quadro dantesco, paleolítico, medieval ou apocalíptico. Toda essa miséria, concluí com meus botões, fruto e conseqüência da existência de uma política mesquinha, de um ordenamento jurídico mesquinho, de um punhado de instituições mesquinhas, de uma constituição mesquinha, porque acorrentada de seus desdobramentos jurídicos necessários para organizar a sociedade brasileira em tópicos mais elevados de humanidade, ética e moralidade, e, talvez, tal acorrentamento seja em razão da influência direta do capital que se encontra acumulado em mãos de alguns e que, muitos deles, preferem contribuir na formação de uma Nação doente, crônicamente doente, com seu povo apodrecendo, sendo empurrado às mazelas por uma ordem econômica perversa e de índole nazística, porque empurra grande contingente de criaturas humanas às câmaras de gás do analfabetismo, da prostituição, da criminalidade e de uma série de formas aberrantes e inumanas de vida, para melhor organizar as, digamos, “quadrilhas formais”, ou seja, grupos que se formam para criarem meios ou artifícios com a finalidade de fraudar o erário público por meios  dos chamados “crimes políticos” ou “crimes do colarinho branco”, crimes estes, por sinal, tão maléficos à sociedade e ao povo em geral, especialmente a esses miseráveis que os vi pelas ruas, quanto aqueles que a lei considera como “crimes comuns”.  Aliás, quanto a esta realidade, podemos concluir que, historicamente falando, aquilo que chamamos de Democracia hoje fora, no passado, criado com a finalidade praticamente exclusiva de transformar o próprio Estado, que é uma espécie de empreendimento mais arrecadador de dinheiro, por força compulsória dos tributos, num lugar onde se administra para “meter a mão” em suas quantias astronomicamente arrecadadas, e foi pensando nisso que o modelo de Estado democrático criado determina, em suas Cartas Constitucionais, a existência de um sistema financeiro privado e frouxamente tutelado pelo próprio Estado, através da sua chamada “Ordem Econômica”. É aqui, justamente onde se pode perceber a razão pelas quais as Democracias foram feitas, ou seja, para manter um contingente humano na desgraça (ou des-graça) e uma minoria, representada justamente por aqueles que detêm o poder econômico (Deus ou o Diabo sabe lá como construíram tais patrimônios!) e, com isso, controla e manipula os meios de comunicação de massa, os partidos políticos, o conteúdo e a qualidade da educação, das artes, etc., como estes pobres miseráveis que meus olhos viram durante mais um carnaval chamado de “eleições”.
            Quando, enfim, cheguei a minha secção eleitoral, também vi parte daqueles miseráveis em fila indianamente humilhante para votar – humilhante porque percebi que muitos deles ali estavam contra a sua própria e livre vontade, assim como eu. Vi, na fila, pois – e não apenas na secção em que estava votando, mas em várias secções que fui observar, com meus olhos de raios-X, mediúnicos, caleidoscópios, tubérculos e cirúrgicos, um povo maltratado e desrespeitado pelas instituições, pela economia e pelas leis do meu país, porque simplesmente dava para se ver que eles estavam mal vestidos e  mal alimentados, e se assim estavam esses é porque não são dignamente assistido pelo seu Estado, ou seja, seu sistema econômico e financeiro, seu sistema educacional e previdencial, cultural e habitacional, resumindo: previamente condenados por um Sistema Jurídico formado e formatado conforme os interesses e as exigências daquilo que frouxamente a Constituição assegura: economia privada, formada por grupos que dominam, politicamente, o próprio Estado, manipulam-no e rapinam-no.
            O escritor russo viu, na sua Rússia Czarista, talvez o mesmo que vi aqui, no Brasil República (ou Brasil democrático, ou Brasil Constitucional). Se Tolstoi ficou por dentro indignado e revoltado com aquela meia dúzia de homens que controlavam o Estado Czarista e empurrava o povo russo para a merda, também fiquei indignado aqui com o Brasil República Democrática Constitucional, porque vi parte do nosso povo na merda e outra parte sendo lentamente empurrada para o mesmo lugar. Quanto a isto, dando aos meus olhos uma extensão ultra-Brasil, podemos dizer que todas as demais supostas Democracias do mundo moderno existem dentro desse mesmo quadro socialmente Holocáustico, porque também todas as outras supostas Democracias se nivelam e também os demais Estados democráticos constitucionais são dominados e controlados pelos grandes conglomerados econômicos, gozando dos mesmos afrouxamentos legais com relação ao fenômeno da garantia da “economia privada”, e até em parceria com o próprio Estado que, por meio de seus representantes, vem sendo, assim como no seu passado histórico, uma ante-sala dos grupos que o erigiram e o organizaram. As Democracias modernas, estão obsoletas e ultrapassadas, porque nenhuma delas ainda se atinaram para a relevância da necessidade da extensão do termo para às questões de ordem social, no sentido de se admitir uma economia redistributiva e uma responsabilidade por parte do Estado com relação ao seu papel fundamental, que é o de atender e cumprir, dignamente, suas responsabilidades inatas: educação, saúde, habitação, lazer, segurança e saneamento, serviços públicos estes que a República Federativa do Brasil, democrática e constitucional, não oferece nenhum deles ao povo com respeito e dignidade: a Nação, paradoxalmente, está miseravelmente desatendida e desrespeitada: o povo na imensa pobreza, pelas  favelas em todas as Unidades Federativas, criminalidade, na  prostituição e no caminho das drogas, fazendo com que o coração de milhares de mães vivam chorando  em razão dos  descaminhos e desgraças vividos pelos seus filhos, quando tal sofrimento poderia ser combatido com políticas sociais verdadeiras.

Guina
               

sábado, 2 de outubro de 2010

VAN GOGH





quando aos céus subiu o estampido
e na terra esvoaçavam os pássaros...
os anjos no firmamento choraram
e até Deus suas tarefas protelou...

era o assombro das nuvens no ar...
o sol que recolheu com suas luzes
e era o mundo que dos seus pólos
calou à terra nos seus profundos...

quando pelo céu ecoou o estampido
e pelo chão chocou árvores e capim
desceu do céu um anjo tardiamente...

Deus dos seus afazeres se silenciou
do seu silêncio até sua face chorou
quando Van Gogh se torcia de dor.

Guina

PERDÃO



Vem mulher, de lixo e abandono
Com teus lábios traídos pela vida
Vem que quero teu tórrido amor
Que meu amor é de ressurreição

Vem mulher, de dor e tristezas
Com teu ventre aberto de ofensas
Vem que quero teu triste amor
Que meu peito é jardim em flor

Vem mulher, com tuas calúnias
Com teu cesto de pura sordidez
Que meu amor te ama de vez...

Vem mulher, no tempo perdida
Com tua sina de morrer ferida
Que meu amor jorra ternura...


Guina

POEMA PATÉTICO



Tudo um dia me será tomado
- sim, ser-me-ei roubado!
Mesmo as coisas não amadas
Tudo, tudo me será levado...

Estou sempre sendo assaltado
E, pior do que às coisas levadas
Por dentro vou sendo devorado:
Desde minha visão aos dentes

Desgraça!..., tamanho abutre!
A nos cercar por todos os lados
Assim por dentro, assim por fora

Nada de nada a restar nada...
Como se nada um dia fosse nada
Senão dor, perdas e saudades.

Guina

SAUDADE II

             

        (para meu irmão)

saudade é faca de dois gumes...
é faca que se amola de costume
saudade é cravo que se craveja
na alma até sangrar a carne...


saudade é a infâmia do ontem
eterna algema presa aos passos
saudade é tiro surdo, eco mudo
dentro dos escombros da alma...

saudade como correndo a fúria
o sentar-se por dentro espichado
- saudade é agonia e estirlhaços

saudade é estar rasgado à ferro
o peito e a alma a fogo abertos...
saudade é degola e desgraça.

Guina

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

SAUDADE I

          





                                (para meu irmão, que me matou de saudades, indo para a eternidade)









... e vou me desfiando e me desfazendo
tanto se espalhando como se diluindo
igual a uma pequena nuvem sozinha
a sumir no imenso azul do celestial...


... e me aproveito do voo dos pássaros
para me ver nas ondas de suas asas
como que desaparecido sem me saber
a não me ter em razão da saudade...


... e vou no meio do vazio do silêncio
ninando minha dor pela tua ausência
vivendo aqui com olhos na eternidade


... e me guardo de mim por ti mesmo
acreditando que depois das nuvens
em algum lugar vamos nos reencontrar.


Guina

ESSÊNCIA



             "talvez a cultura neo-hedonista ocidental, usada para poder estimular o consumo pelo consumo, termine causando um grande mal: o fim do amor e, por efeito, abrindo a Era das violências"
                                                                            Guina



é bom o beijo que se renova
na boca que se beija e é beijado
assim essa troca bem trocada
no jeito que se beija e é beijado


é bom o abraço que se renova
nos braços de quem nos abraça
assim esse laço se renovando
em laços que nunca se acabam


é bom o carinho que se inova
no mesmo corpo que nos toca
em efeitos doces de respostas


é bom amar e assim ser amado
sendo os dois como se únicos
únicos os dois, porém múltiplos.


Guina

LEVEZA



sair por sair, sem saber porque assim
nas ruas como se andando por jardins
sem relógio, celular e de mãos vazias
e nada, absolutamente, para comprar

sair sem pressa para sair ou de voltar
como se todos na rua fossem vizinhos
cuidar um bom dia aqui, outro acolá
sair assim: braço a braço com a vida

sair para ver se acha em algum lugar
uma flor, um passarinho, um velhinho
com algum estranho sentar, ri, prosar

sair sentindo saindo só com o nome
sair sendo você mesmo, disso convicto
sair com amor e esperança nos olhos.

Guina

ESCRITO NAS ESTRELAS
























a porta do mundo é o outro...
sem o outro é nada o mundo
é estar nele sem saber sorrir
vagando nele sem se achar...

é o outro que nos dá a carne
independe se, aberta a porta
nosso inferno é o que se acha
- o outro é a nossa verdade!

o paraíso da alma é o outro
no outro e apenas no outro
é que temos a nós e a fala

é o outro que nos dá o riso
e também nos dá a lágrima
- com o outro, existimos...

Guina


TERMINAL

                                                         (prá mim, pouco importa; apesar de jovem, canto a vida, canto a morte)
                                                                                        Guina
Ficamos perplexos e complexos: envelhecemos!
E de um pólo ao outro foi rápido como um gato
E a boca que era como flor de beijo, ficou nua
- onde o riso era um espelho, agora vibra triste

E como ainda ontem brincava de pular a vida
- como que um beija-flor beijando aqui e acolá
Agora a roda do mundo me pisa por todo lugar
- eu, menino ainda ontem; agora, “aqui jaz”...

E tudo do que vi e agora em desespero percebo
Foi que nada do passado foi maior que o beijo
E, se morremos, óbvio que queríamos com ele

Ficamos perplexos e complexos: envelhecemos!
E se nas veias a poesia corre, também ela morre
De uma forma e de outra nos arrebata a morte.

 Guina