segunda-feira, 4 de outubro de 2010

ETERNA LUTA




     O alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, ou, simplesmente Hegel, como o é mais conhecido, é o autor de uma obra que exerceu grande influência no mundo, desde quando da publicação da mesma, no século XVIII. Estamos falando do seu livro A Fenomenologia do Espírito.
     Entretanto, sabe-se que no campo da literatura o livro desse alemão que mais teve repercussão foi justamente o livro A razão na História, o qual até hoje tem sido uma das obras mais lidas e pesquisadas no mundo todo, por intelectuais, estudantes, psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, etc. Ler tal livro tornou-se como que algo obrigatório para toda ou qualquer pessoa que admira o mundo das letras.
      Se Fenomenologia do Espírito foi, digamos, a obra mais lida na época, principalmente pela intelectualidade da Igreja, podemos dizer, porém, que, quanto ao seu livro A razão na História - uma introdução geral à filosofia da História, parece ser o mais estudado, pesquisado e debatido entre meia dúzia de homens singulares, com relação ao modo de estar no mundo e de agir sobre o mundo. Este livro do qual estamos falando, A razão na História, é fruto e consequência do pensamento interpretativo que Hegel fez sobre a mentalidade filosófica da Grécia antiga e os escritos do Velho Testamento, principalmente aqueles referentes ao Êxodo e sobre a figura de Moisés. Sem essas duas fontes, digamos, uma de natureza filosófica e outra de ordem teológica, Hegel não teria escrito sua A Razão na História, e que é um livro que não ultrapassa a fronteiras das cento e quarenta páginas. 
      Segundo à mentalidade filosófica dos gregos antigos, os deuses do Olimpo exerciam grande influência sobre os homens aqui na Terra, tanto para o bem como para o mal, conforme a conduta de cada qual e a pretenção de cada um dos deuses. Esse fenômeno de intervenção por parte dos deuses na vida pessoal das pessoas não era ainda, entre os gregos, da maneira mais abrangente como se encontra nos textos do Velho Testamento, principalmente com relação aos escritos sobre o Êxodo e em torno da figura de Moisés. Diferentemente da visão grega antiga, no Velho Testamento constatamos a presença ou intervenção de Jeová não apenas na vida das pessoas, mas, também, na vida dos povos em geral.
       Hegel, analisando a mentalidade filosófica da Grécia antiga e a mentalidade teológica do Velho Testamento resolve escrever uma obra que até hoje divide a Humanidade culta em duas partes: os pró Hegel e os contra Hegel. No seu livro A razão na História, Hegel admite que a História não é feita pelos homens e sim através deles e que cujo protagonista dela é Deus, agindo sobre homens escolhidos através de Ideias, estas como expressão do poder Divino que penetra em alguns homens e orienta o cenário da luta histórica através dos mortais. Com isso, dizem que Hegel cria uma filosofia da História e cujo condutor dela nada mais é que o próprio criador do mundo e de todas as coisas: Deus. Aos estudos de Hegel foi dado um nome pejorativo de Metafísica da História, principalmente pelos que não admitiam seu ponto de vista sobre a História e sua realidade: Karl Marx e seus seguidores. 
     Para Karl Marx, também alemão, a realidade Histórica é um fenômeno feito pelos homens e sem qualquer interferência de um deus qualquer. Para Marx, ao invés de algum deus agir através dos homens para dinamizar a História, são simplesmente os homens que a conduzem e tendo como fonte motriz não a a "presença" divina de algum deus, mas simplesmente as contradições histórico-materiais decorrentes das relações sociais de produção. 
     Os dois alemães acima, Hegel e Karl Marx, são, até hoje, os únicos responsáveis, no campo social, de criar uma cisão no pensamento Histórico: o mundo ficou dividido entre aqueles que acreditam na "intervenção" de Deus na vida das pessoas e nos acontecimento da História e aqueles outros que não acreditam em nenhum deus "interferindo" na vida das pessoas e nos fatos da História. Essa polêmica no campo das ideias, desenvolvidas por Hegel e Marx, jamais se chegará a um denominador comum definitivo, além de se constatar certo perigo tanto na filosofia metafísica de Hegel como na filosofia materialista de Marx. 
      Se abraçarmos Hegel, os crimes da História devem ser atribuídos a Deus, o Criador; se admitirmos o materialismo de Marx, os crimes da História são da responsabilidade exclusivamente dos homens. O perigo da Filosofia de Hegel está em não ver culpa alguma no homem, pelos seus atos, já que é Deus que age sobre os homens e através deles; enquanto que o perigo da filosofia de Marx consiste em "matar" Deus e por o homem como o centro de tudo. Uma sociedade sem Deus, é angustiante; uma sociedade com um Deus responsável por todas as coisas, é paradoxal. 
     Afinal, quem detêm a verdade: o alemão Hegel ou o alemão Karl Marx? Aqui estamos diante de duas visões de vida e de mundo e que tem  gerado o que chamamos de a Grande Divisão Gnoseológica Humana, provocando forte influência nas Ciências e na ideologia de alguns modelos de Estado. Hoje,  por exemplo, parece prevalecer dentre os cientistas em geral a teoria materialista, desenvolvida por Karl Marx, principalmente depois da divulgação dos estudos da teoria evolucionista apresentada ao mundo pelo inglês Charles Darwin, cuja teoria vem sendo rigorosamente adotada no campo da política por algumas Nações, a exemplo dos EUA, com sua política de expansão, domínio e de influência sobre os demais países do mundo, desde quando aderiu à corrida armamentista e de produção de armas atômicas; não acontecendo tal mentalidade, entretanto, com relação aos países do  Oriente Médio, os quais, na sua esmagadora maioria, adotam o modelo Estatal teocrático, e não laico. 
     Quando ao mundo presente, apelidado de neo-liberal ou de globalizado pela opinião econômico-financeira mundial, podemos dizer que venceu insofismavelmente o materialismo de Marx juntamente com o Evolucionismo de Charles Darwin, mas ambas as teorias aplicadas exclusivamente no campo da competitividade econômica ou de mercado. Com relação ao mundo religioso, estamos presenciando grande transformação, diferentemente dos tempos históricos mais recuados, isso possivelmente por força das modificações e transformações materiais e econômicas ocorridas nas últimas décadas. Diferentemente da realidade do passado, as Igrejas, muitas delas, já se lançam à frente no sentido de assumirem toda uma forma ou estrutura empresarial, lançando mãos dos meios e recursos da tecnologia moderna e dos métodos de manipulação e mercantilismo da fé humana. Nesse aspecto, lamentalvemente, parece que o futuro nos trará uma pregação metafísica voltada para a manipulação da mente das massas e pela formação de grandes fortunas expressadas por aquisição de imóveis e dos mais diversos meios que a tecnologia propõe, como rádio, canais de televisão, jornais, revistas, etc. E, nesse aspecto peculiar, o religioso sairá das premissas do criador do Cristianismo, Cristo, para atender a outros interesses, pessoais ou de grupos.
      Quando o filósofo Friedrich Nietzsche, também alemão, disse, no seu livro A Gaia  Ciência, a frase "Deus está morto", poucos e raros os que entenderam e compreenderam o grito daquele filósofo. Sua célebre frase foi, em verdade, a mais forte e impactante profecia já dita por um simples mortal, e talvez ele não o tivesse dito tal frase se, porventura, não fosse um dos maiores leitores e vorazes da cultura grega antiga, além de filólogo e conhecedor da língua grega, e que agora, ao que parece, já se começa a ser constatada, pois, para aquele pensador por todos temido ele quis dizer que os avanços naturais e inevitáveis das técnicas e da tecnologia, a expansão mundial do mercado e os interesses meramente econômicos entre os homens, estes, por sua vez, dariam continuidade, pela segunda vez, a matança de Deus, na pessoa do seu filho, representante daquele. E aos poucos estamos constatando tal veracidade, à medida em que os valores científicos vão predominando sobre os teológicos, à medida em que os valores materiais vão predominando sobre os morais, à medida em que o dinheiro vai predominando sobre o amor, à medida em que Deus vai sendo relativizado, à medida em que os valores humanos de natureza filosófica e cristãos vão sendo substituídos pela hipocrisia sutil e pelos interesses egoístas, à medida em que as Igrejas vão substituindo a prática cristã pelas práticas farisaicas, etc.  
     Quando, pois, o filósofo Nietzsche disse: "Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje!", não estamos diante de uma lamentação ou de uma exaltação manifestada pelo filósofo, mas, segundo o filósofo,  de uma constatação a partir da qual o mundo caminharia, como caminha, para a superação dos valores metafísicos pelas técnicas, além do fato dos homens não mais passarem a aceitar numa ordem cósmica transcendente e responsável pelos destinos da Humanidade aqui na Terra, fato que, conforme o filósofo, fará nascer sobre a terra a rejeição dos valores absolutos e o nascimento na descrença de quaisquer valores, fazendo com que a vida do homem perdesse seu sentido teológico para predominar o sentido material das coisas. 
      As ideias de Hegel são, digamos, ainda predominantes no mundo religioso e nas massas leigas, com suas relatividades e formas antagônicas ou dúbias, e, por estarem tais ideias no campo do antagonismo e da dubialidade, não seria erro dizer que elas, no seu conjunto, são responsáveis pela manutenção e preservação da ingenuidade social e política das massas em todos os países do mundo e do atraso material e espiritual que tais massas se encontram, daí, nessa particularidade, o grande embate ideológico, por exemplo, entre o pensamento do teólogo Leonardo Boff, representante da Teologia da Libertação, e a Igreja  Católica Apostólica Romana, representada na figura do seu Sumo Sacerdote, o Papa. Quanto ao pensamento materialista de Marx e ao pensamento evolucionista de Darwim, podemos dizer que  os que adotam tais premissas, e eles são a grande parte esmagadora dos que detêm o poder político e o poder econômico em sua grande escala, em verdade há muito que não concebem mais os pensamentos de Hegel, assim com no passado recuado, na época de Roma antiga, os próprios Césares e expressiva personalidades da classe patrícia detentora de grandes fortunas não acreditavam mais nos seus próprios deuses, embora fosse proibido e submetido à pena de morte todo aquele que do povo desacreditasse num desses deuses. 
     Assim como o cérebro humano é  dividido entre dois hemisfério, com funções diferentes, mas trabalhando entre si como um todo, assim como a Terra é dividida entre dois pólos, hemisfério Norte e hemisfério Sul, assim como a mente humana é dividida em duas partes, consciente e inconsciente, também é verdade dizer que tanto Hegel como Karl Marx, ambos alemães, foram os responsáveis na divisão da alma humana: uma que é cristã, metafísica e outra que é materialista e atéia, como também são os responsáveis pela forma de pensar o mundo e a história de nossos tempos, em todos os campos propriamente dito.

Guina

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